Em diversas obras de arte, o tratamento dado pelo artista às roupas e, especialmente aos tecidos, tanto na qualidade de protagonistas como de coadjuvantes, retrata os hábitos de uma época, a moda, a classe social, e nos faz conhecer novas nuances sobre as roupas.
A importância dada às roupas na arte pode ser observada em uma infinidade de trabalhos.
No retrato de Luis XIV, de Rigaud, vê-se a opulência do arminho, da seda, do veludo, a cor púrpura tão preciosa e restrita à nobreza.
Retrato de Luís XIV, 1701
Hyacinthe Rigaud
Watteau também conferiu enorme significado à roupa em suas obras e seu nome chegou até a designar um tipo de vestido feminino muito retratado em suas pinturas.
Duas primas, 1716
Jean-Antoine Watteau
Ingres, mestre da linha e do desenho, traduziu com perfeição a textura dos vestidos usados pela burguesia francesa; seu trabalho é repleto de referências à moda usada pela classe abastada da época.
Condessa de Haussonville, 1945
Jean-Auguste Dominique-Ingres
Goya também dedicou grande parte de seu trabalho a retratar membros da nobreza, destacando a riqueza dos tecidos, especialmente a tão cobiçada renda, característica marcante da moda espanhola do período.
Retrato da Duquesa de Alba, 1795
Francisco de Goya
Essa riqueza dos tecidos pode ser observada também de um modo mais abstrato, como nos quadros de Gustav Klimt. Em O Beijo e O Retrato de Adele conseguimos imaginar uma profusão de brocados, sedas e estamparias.
O Beijo, 1907
Gustav Klimt
Retrato de Adele Bloch-Bauer, 1907
Gustav Klimt
Entretanto, as referências que podemos obter desse tipo de observação não se prendem apenas a uma classe privilegiada. Tomemos como exemplo Renoir, nas palavras de James Laver "Renoir é muito útil ao retratar as roupas comuns das classes médias e trabalhadoras da época". Em Guarda-Chuvas, temos a captura de cena cotidiana na qual podemos observar até as vestimentas infantis.
Guarda-Chuvas, 1881-6
Pierre-Auguste Renoir
Nessa mesma linha, temos O Aguadeiro de Sevilha, de Velázquez, no qual percebe-se a condição humilde do aguadeiro pelo estado de suas roupas, contrastando com a riqueza da taça de vidro, material este que era caríssimo na época e ao alcance de poucos.
O Aguadeiro de Sevilha, 1619
Diego Velázquez
A roupa pode, inclusive, nos levar a uma reflexão psicológica sobre o autor. É o que acontece com Recuerdo de Frida Kahlo. Nessa obra, vemos o passado da artista (na roupa escolar) e o período posterior no qual Frida teve uma vida repleta de doenças, acidentes e lesões, sofrimento traduzido pela flecha traspassando a roupa e dilacerando-lhe o coração.
Recuerdo, 1937
Frida Kahlo
Todavia a ropua pode estar inserida em contexto moralizante. Na Madalena de Ticiano, é traçada uma perturbadora relação entre a história bíblica e a iconografia dos longos cabelos de Maria Madalena, usados como "roupa" cobrindo-lhe o corpo.
Santa Maria Madalena (1530-1535)
Ticiano Vecellio
Há momentos, contudo, que a roupa sobrepõe essa representação bidimensional e se torna o elemento principal de uma escultura. É o caso de O Êxtase de Santa Teresa, de Bernini, obra barroca na qual o mármore é trabalhado de tal forma que transmite uma sensação de profunda leveza no hábito da freira.
O Êxtase de Santa Teresa (Início séc. XVII)
Gianlorenzo Bernini
Até que chega um ponto em que a roupa é o suporte da arte e um quadro se transforma em um vestido.
Souper Dress, 1968
Andy Warhol
Mondrian, 1965
Yves Saint Laurent
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