Aquele distanciamento "respeitoso" que geralmente nos acomete ao ver uma obra de arte, nem sempre está presente em muitas propostas.
É o que acontece com o trabalho de Hélio Oiticica (1937-1980), importante artista carioca dos anos 1960, com sua obra para "vestir", os famosos Parangolés.
Foto Andreas Valentin
Revista Continuum
Essas peças procuravam criar uma interação e proximidade com o observador, tornando-o assim parte da obra em questão. Nas palavras do crítico de arte Tadeu Chiarelli, para Oiticica "Vestir uma obra e com ela caminhar e sambar é dessacralizar o objeto de arte tradicional, transformando-o em uma proposição para a ampliação sensorial nos campos do espaço e do tempo reais."
Em outro contexto, temos a obra do paulistano Nelson Leirner (1932), Stripencores, produzida em 1968 e revisitada há pouco tempo no Itaú Cultural. Nessa exposição, o artista fez uma releitura do trabalho, colocando-a ao lado de serpentinas, transmitindo assim a idéia de que as roupas estavam desfiadas.
Isso é só para nos fazer repensar conceitos arraigados sobre os limites entre obra de arte, arte pura e arte-moda. Por que não podemos observar uma criação de alta-costura, por exemplo, de Galiano para a Christian Dior, como uma peça de arte a ser exposta em um museu?
Desfile da Dior, primavera-verão 2004
E, às vezes, assim sem querer e de forma sutil, pode uma peça nos fazer pensar em um certo parangolé...
Alexandre Herchcovitch
Primavera-verão 2010
[©Conteúdo
protegido por direitos autorais. Texto e análise crítica produzidos pelo O
Avesso da Moda. Imagens coletadas a partir das fontes acima citadas. Todos os
direitos reservados.]