Os números são dados alarmantes e as notícias já tomam conta das políticas de saúde pública mundial e, naturalmente, invadem a cabeça de milhares de pessoas. Dr. Diego Tavares, psiquiatra e especialista em depressão e bipolaridade do Hospital das Clínicas da FMUSP e o psicólogo Oswaldo M. Rodrigues Jr, de SP, comentam o desespero coletivo sob os aspectos da saúde mental.
A ansiedade é uma emoção muito normal ao ser humano, e surge comumente ao se deparar com uma situação estressante, como a que o mundo vive agora diante de uma pandemia. "Quando há uma situação de ansiedade coletiva como essa que estamos vivenciando, isso é, várias pessoas preocupadas com um mesmo fato, as emoções e sentimentos podem ser potencializados e aflorados muito mais do que quando uma pessoa vive uma ansiedade sozinha, por exemplo", explica o médico.
A ansiedade é muito próxima da preocupação, e a preocupação nada mais é do que um aspecto do medo, um temor de que as coisas piorem. "Todos esses componentes são necessários para a nossa evolução e sobrevivência. No caso do coronavírus, a preocupação é válida como forma de prevenção da disseminação do vírus, entretanto, o que não pode ocorrer é um exagero no tempo prolongado de ansiedade (a chamada ansiedade crônica) que aumenta o nível de tensão e o estresse interno e pode levar ao surgimento do medo específico ou até mesmo irreal e acarretar em outras doenças mentais mais graves", comenta.
Essas crises, também chamadas de "ataque de ansiedade coletivo" produz o desconhecimento dos próprios sintomas. "Muitas vezes, quem sente essa ansiedade coletiva já provou dos mesmos sintomas durante uma simples entrevista de emprego, por exemplo, mas quando é compartilhada entre outras pessoas que estão com a mesma sensação e pelo mesmo motivo, reproduz ainda mais o medo e a inquietude", revela.
Dr. Diego fala que é um ciclo vicioso. Se uma pessoa afetada começa a ter taquicardia, por exemplo, é provável que quem está do lado possa achar que está sofrendo um ataque do coração, por isso se assusta, aumenta a ansiedade e os quadros só pioram. "A chave para minimizar os ataques é reconhecer os sintomas para não ampliá-los e usar o momento para se proteger e resguardar", diz o médico.
Para o psicólogo Oswaldo M. Rodrigues Jr., o isolamento produzirá estados de humor que podem ser muito complicados, por isso que ponderar alternativas e olhar para os próprios sentimentos ajudarão para que emoções erradas não impulsionem ações desmedidas e com consequências nefastas. "É comum que os estados depressivos apareçam em poucos dias se instalando com o medo, a preocupação, o desamparo e a percepção de sermos incapazes. Nestas condições emocionais (medo, ansiedade constante, desamparo, depressão) teremos mais pessoas adoecendo fisicamente e, assim, mais resfriados e somatizações ocorrerão", alerta.
Sentimentos como frustração e sensação de ser impedido de fazer o que se deseja fazer, acabam fazendo com que as pessoas busquem justificativas e respostas para o que ainda não temos e isso só aumentará as emoções negativas. "Agora é hora de quarentena de saúde física, portanto, individualmente, temos que cuidar de nossa saúde mental e preparar-nos para os próximos meses, quando precisaremos desenvolver as nossas capacidades pessoais de lidar com o desconhecido. É um bom exercício mental e emocional. Seremos fortes!", finaliza o psicólogo.
FONTES:
Dr. Diego Tavares
Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB). http://drdiegotavarespsiquiatra.com/
Oswaldo M. Rodrigues Jr.
Psicólogo formado pela UNIMARCO (1984); foi Secretário Geral e Tesoureiro da WAS - World Association for Sexology (2001-2005); Presidente da ABEIS - Associação Brasileira para o Estudo da Inadequação Sexual (2003-2005); dedica-se a tratar de problemas sexuais junto ao InPaSex - Instituto Paulista de Sexualidade - do qual é fundador e diretor. Autor de mais de 100 artigos científicos e mais de 35 livros, dentre eles: Parafilias (Ed. Zagodoni) Terapia da Sexualidade (2 vol., Ed. Zagodoni); editor chefe da Revista Terapia Sexual: clínica, pesquisa e aspectos psicossociais e co-coordenador do CEPES - Curso de Qualificação em Psicoterapia Sexual do Instituto Paulista de Sexualidade. http://oswrod.psc.br/
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